Quem é você para julgar?
Ei, você aí! É, exatamente você que passa e me olha com cara
de quem está analisando ou, pior, julgando. Devo lhe informar que você não sabe
nada - mas nadica mesmo - sobre mim. Sabes o que vê; e o que vê é
substituível, mutável, escolhido. Você vê a roupa que eu escolhi te mostrar, a
cor do batom que eu decidi passar e o All Star velho que resolvi calçar hoje.
Talvez nada que demonstre um pouquinho da minha personalidade, porque
geralmente é o que estava mais visível seguindo a (des)ordem do meu
guarda-roupa. E mesmo quando tem algum resquício a ver, é apenas sobre a minha
casca. Casca esta que todos temos.
Você não faz ideia dos
meus problemas, das minhas angústias ou mesmo dos motivos que me fazem sorrir,
apenas ao ato de me olhar. Deves mergulhar mais a fundo se quiser saber (embora
o grande problema seja que poucos sabem como mergulhar neste mar). Um mar
popularmente conhecido por alma, coração ou
mesmo o pensamento. Existem boatos
que o recomendado é levar um casaco e uma lanterna, parece que essa expedição é
escura e gélida de acordo com cada “eu”. Bom, o fato é que chegar lá é difícil;
não recordo de alguém que tenha conseguido essa façanha comigo. ERROR 404 NOT
FOUND. É porque ninguém conseguiu, mesmo com tantos rostos que passaram pela
minha vida.
Isso me lembrou de uma
pesquisa para um trabalho de Filosofia, que questionava-me sobre qual seria o
sentido da vida (o professor estava corretíssimo quando disse que as questões
mais óbvias são as mais complexas de responder). Depois de muita pesquisa, eis
que surge a mais simplória e genial de todas as respostas encontradas até então:
“O sentido da vida é o que se faz dela”. E trazendo isso ao assunto inicial e –
que deveria ser – foco do texto, por qual razão o sentido da nossa vida seria
viver em um eterno júri, julgando as pessoas pelas suas respectivas cascas? Penso
que haja algo de muito errôneo nisso. Lembre que, ao que tudo indica, nossa
única vida seja esta, da qual a gente constrói a cada abrir de olhos pela manhã.
Bem, devo lhe informar que você não sabe nada – mas nadica
mesmo – sobre... Nada.
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